quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Marcos Nonato da Fonseca, o mais jovem da ALN

Marcos Nonato da Fonseca, o mais jovem da ALN

Gabriel Passos – Para o blog A Luta Armada no Brasil –
www. lutaarmadabrasil.blogspot.com

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No dia 06/01/2009, Leda Nonato(foto), mãe de Marcos, nos concedeu uma entrevista, por telefone. Assassinado aos 19 anos, Marcos talvez fosse o quadro mais jovem da ALN
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Dele, pouco se sabe. Saiu de casa aos 16 e desde os 13 tinha envolvimento com a luta. Levou todos os tipos de pertences. De fotos, só restou uma, tirada junto a família, aos 11 anos. Na mesma época em que, numa brincadeira com o irmão, cortou a sobrancelha, resultando numa pequena cicatriz vista pela última vez no dia de seu enterro.
Marcos Nonato da Fonseca, o Marquinhos, carioca, era estudante secundarista do tradicional colégio Dom Pedro II, berço de muitos revolucionários e líderes estudantis. Sua mãe, Leda Nonato, tem mais lembranças do filho pequeno, alegre e estudioso. Da época em que estava prestes a sair de casa, destaca uma: “Certa vez eu cheguei em casa e ele disse: ‘Mãe, tem um amigo meu que vai dormir aqui em casa’. Era alto e usava farda do exército. Dormiu na sala, no sofá, e saiu logo cedo”. Era Carlos Eugênio Paz, o Clemente, comandante da ALN.
Marcos tinha todo o cuidado de esconder da família seu envolvimento na luta. Temia que eles fossem atingidos pela repressão. Dava notícias de vez em quando, através de uma amiga. Temia que o telefone dos pais estivesse grampeado.
No dia 14 de Junho de 1972 foi, como sempre ia, almoçar no restaurante Varella junto a Ana Maria Nacinovic, Iuri Xavier Pereira e Antônio Carlos Bicalho Lana, todos da ALN. Marcos era o mais novo deles, apenas 19 anos de idade.
Vendo mais uma vez os militantes em seu restaurante, Manoel Henrique, o proprietário português, ligou para a polícia e fez a denuncia. Pouco tempo depois, um enorme contingente de policiais ocupou alguns pontos da rua Antunes Maciel, bairro da Mooca. Chegaram atirando. Para o crime, existem duas versões – que esperamos que sejam esclarecidas 1 – a das mortes sumárias e a da prisão seguida de fuzilamento num pátio do DOI-CODI. O certo é que os três corpos foram vistos, na sede do DOI-CODI, situada a Rua Tutóia, São Paulo, pelo preso político Francisco Carlos de Andrade.
Posteriormente, o pai e o irmão de Marcos foram até São Paulo em busca do corpo. Trouxeram o caixão blindado, onde só se via seu rosto, para ser enterrado no cemitério São João Batista(RJ). Segundo sua mãe, “o que mais tinha eram policiais do DOI, em cima dos túmulos”. Fotografavam o enterro em busca de algum companheiro presente no local. Não tinha ninguém. Somente as marcas da barba feita e do cabelo cortado de Marcos, somente o sentimento de impunidade que pairava o ar daquele cemitério.
Sentimento que, até hoje, prevalece na memória de quem viveu aquele período tão sangrento. Tão sangrento que tirou a vida de um jovem de dezenove anos, tão cheio de sonhos e ideais.
Marcos partiu como imaginamos que deveria pensar em partir: Como um herói.

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1 : De todas as versões, a mais contundente é a da morte no local, sem reação. Segundo Enerstina, mãe da criança que passava e foi ferida pelos policiais, assim como outro transeunte, quatro jovens se dirigiam a um carro quando os policiais abriram fogo e mataram Ana Maria, Marcos e Iuri. Antônio Carlos conseguiu fugir, no carro, e foi seguido de alguns policiais. Logo depois, chegaram uma ambulância e um carro do IML para a retirada dos cadáveres. Em breve, mais informações.